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domingo, 26 de setembro de 2010

dos confins até hoje, talvez.

Nunca existiu um homem só a seguir. Era tudo uma questão de honra. O rapaz que vivia dentro de uma garrafa, a mulher que não sabia escrever, o homem que não sabia amar - todos eles e mais alguns. Todos eles condenados. À forma de sempre, à forma de serem esquecidos. Quer pelo tempo, quer por si em si. Nunca existiu nada a seguir - diriam mais tarde.

domingo, 19 de setembro de 2010

Crescer

Gosto das sexta-feiras em que regresso à casa onde cresci na "minha" pequena cidade. Gosto das conversas com amigos que já não vejo há muito tempo. Fico sempre espantado por reparar o quanto determinadas coisas vão mudando. Outras permanecem sempre com a mesma forma. São imutáveis. Vejo amigos com quem me divertia até às tantas, a tomarem conta dos seus filhos. Outros, estão a um passo de serem pais. Vão aos médicos, falam das ecografias, dos pontapés na barriga da mãe, dos cuidados que tomam para que tudo corra bem. Outros preferem estar sozinhos, ou então estão bem “assim”, e amanhã logo se vê. Toda a gente vai crescendo ao seu ritmo, toda a gente tenta viver da melhor maneira possível. Penso para comigo – toda a gente continua a crescer, independentemente do caminho que se segue à frente. Essa é uma daquelas coisas que me parece não mudar...

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Verão sem fim

O fim do Verão sabe-me a morte. Não é sabor a morte como a conhecemos. A morte de caixão, velório e corpos pálidos e frios. Não é essa morte que me abarca nesta asa de pensamento. É morte diferente da perda física. Envolve-me uma perda subtil e tão leve que nem sequer a tomo como perda de algo em si. É estranho, para mim, tentar explicar algo que se manifesta desta forma nos recônditos do corpo e coração, algo tão sumiço e tão desvanecido que é difícil a devida caracterização. As palavras jamais vencerão um coração aberto à vida. É tudo uma questão de emoções. Sinto que, ao colocar uma só letra que seja num espaço branco, essas sensações que tento caligrafar se acabam por perder. Normal – dirão alguns. Mas o que temo, talvez irracionalmente, é que essas sensações me deixem de visitar. As palavras conseguem, por algumas vezes, desmistificar e gastar o corpo. Eu sou visitado por esses sentimentos – acredito que os conservo melhor se não os partilhar. Não os chamo. Vêm. Apenas isso. Todas essas sensações estão de alguma forma ligadas e, por mera naturalidade, induzem-me a um bem-estar quase, quase hipnótico. Toda a vez que me meto debaixo da água do chuveiro depois de uma tarde de praia num Setembro rachado ao meio, onde já se sente no ar o palpitar do arrefecimento do crepúsculo, e sinto a água morna a querer ser quente na pele; toda a vez que percorro a auto-estrada, de volta a casa, com o sol a testemunhar quilómetros percorrido em silêncio; toda a vez que o silêncio das noites me invade e, eu de mente dispersa no horizonte, sinto toda a grandiosidade da vida em mim. É quase como se me sentisse um balão a encher de ar, um vida toda a ser “carregada” para dentro de mim. E depois, lá vem essa perda, essa perda boa, de algo que se vai, mas que sabemos, que à parte de qualquer tragédia, ironia, ou partida de destino, voltará a nós. O que mais me agrada nisso, é toda a possibilidade que essa sensação encerra em si. Onde estarei? Que vida estarei a criar nessa altura? Tudo tem um peso de renovação. Renovação interior. Dentro de mim, o Verão nunca deixará de ser Verão. É dele que vêm as minhas melhoras recordações, e tenho a certeza, que é dele que virão momentos ainda melhores. Será sempre assim, em ciclo, porque esses momentos juntar-se-ão às melhores recordações quando eu, quando eu num qualquer fim de tarde, sentado no terraço, sentir-me seta apontada aos dias desconhecidos, sentir-me infinito por descobrir, sentir-me renascido. Já se disse muitas vezes, mas convém relembrar que - em toda a perda há um novo nascimento, uma nova vida, um novo sentimento, enfim – há a ilusão de que tudo perdurará para sempre, de que nada disto que se vê ou sente tem na realidade qualquer fim, nem que seja, apenas e só, numa memória inclinada ou esparsa...